Escoliose

O que é escoliose?

A escoliose é definida como uma deformidade estrutural tridimensional (3D) da coluna e é diagnosticada com base na medida das principais curvas que compõem a deformidade. A medida é realizada no plano coronal utilizando uma radiografia póstero-anterior padrão, e o ângulo de Cobb é formado entre uma linha traçada paralela à placa terminal superior da vértebra superior incluída na curva escoliótica e uma linha traçada paralela à placa terminal inferior da vértebra inferior da mesma curva. A escoliose é diagnosticada se o ângulo de Cobb for ≥10º.
A escoliose pode ser dividida em 03 tipos de acordo com a idade com a qual é diagnosticada. Escoliose de início precoce (EOS), escoliose idiopática do adolescente (EIA) e escoliose do adulto. Nesse texto iremos abordar as duas primeiras, foco do proposto trabalho.

O que é Escoliose de início precoce?

A escoliose de início precoce (EOS) é definida como uma curvatura da coluna superior a 10º no plano coronal em crianças com idade inferior a 10 anos. O manejo da escoliose de início precoce é desafiador, e deve levar em consideração a inter-relação entre crescimento da coluna vertebral e tórax e o impacto desse crescimento no desenvolvimento pulmonar. Além disso, os pacientes com EOS apresentam frequentemente outras comorbidades, o que aumenta o desafio ao realizar o manejo das deformidades. Apesar dos muitos avanços recentes, a incidência e prevalência de escoliose de início precoce na população permanece desconhecida. Isso ocorre em parte porque antes do consenso de 2015 havia uma grande variação na definição das faixas etárias e diferenças na determinação das categorias etiológicas adequadas, dificultando uma análise epidemiológica unificada. Em um recente estudo multicêntrico japonês, a incidência anual de escoliose de início precoce em crianças menores de 10 anos foi calculada em 0,019%, enquanto a prevalência de escoliose de início precoce em crianças menores de 10 anos foi de 0,077%.

EOS não é um diagnóstico, e deve ser compreendida como a idade na qual a deformidade espinhal se inicia. Sua etiologia é variada, apresentando grande heterogeneidade entre os pacientes. A etiologia da EOS pode ser idiopática, secundária a doenças neuromusculares, associada a síndromes sistêmicas ou mesmo causada por alterações estruturais congênitas da coluna vertebral. As estratégias e duração do tratamento diferem bastante de acordo com a etiologia e a possibilidade de crescimento do paciente.
Quanto mais nova a criança, maior a chance da deformidade da coluna espinhal afetar o desenvolvimento pulmonar e consequentemente sua função. Em pacientes com EOS, o aumento da deformidade da coluna ocorre em um momento crítico da maturação pulmonar. Os pulmões se desenvolvem de forma não linear. A proliferação alvéolo-capilar tem seu pico entre 0 e 2 anos, e o seu término ocorre aos 08 anos. Qualquer deformidade ou perda de flexibilidade do complexo coluna vertebral, costela e esterno gerada pela progressão da escoliose altera a capacidade dinâmica do sistema respiratório e afeta negativamente o desenvolvimento alveolar em número e volume. A doença pulmonar restritiva pode causar hipertensão arterial pulmonar, levando a insuficiência cardíaca direita ou cor pulmonar na vida adulta, condições de grande mortalidade precoce nesses pacientes.

Como tratar a EOS?

O tratamento não cirúrgico da EOS pode ser feito com uso de coletes ou gesso seriado. O uso de coletes está indicado em curvas leves e moderadas, porém a sua eficácia é controversa. Em uma série de casos, Smith obteve apenas 47% de resultados favoráveis com uso de colete. A pouca conformidade dos pacientes em usar o colete seria um importante fator para o insucesso do tratamento.
O uso de gesso seriado pode resultar em correção da curva em alguns pacientes, porém, além disso, pode ser um importante aliado em postergar a necessidade de procedimento cirúrgico.
Comparando o uso de gesso com o uso de órtese, o primeiro permite um melhor ajuste a curva e uma força corretiva constante. Em sua série de casos, Smith apresentou resultados satisfatórios com uso de gesso e nenhum dos pacientes que o utilizaram precisaram de intervenção cirúrgica. O uso de gesso seriado também apresentou resultados satisfatórios quanto a função pulmonar dos pacientes. Shafer em uma série de 175 pacientes tratados com uso de gesso seriado apresentou resultados que sugerem que o gesso não apresenta nenhuma restrição a longo prazo na função pulmonar. Além disso, o gesso protege a função pulmonar da história natural de deterioração observada nos pacientes com EOS que não recebem nenhum tipo de tratamento. Para a aplicação do gesso, foi utilizado tração e uma mesa apropriada- a mesa de Risser.
O tratamento cirúrgico da EOS pode ser dividido em 03 tipos: sistemas de distração, sistemas de crescimento guiado e sistemas de compressão. O primeiro tipo citado utiliza hastes de crescimento fixadas na coluna vertebral, costelas e/ou pelve que aplicam uma força de distração para a correção da deformidade. Dentre as opções para o sistema de distração destacam-se a haste de crescimento clássica, o VEPTR e as hastes de crescimento magnéticas. Os sistemas de crescimento guiado corrigem a deformidade ancorando múltiplas vértebras a haste utilizando força mecânica, inclusive translação, no momento da aplicação dos implantes. Esses sistemas mantêm a coluna em sua posição reduzida, sem restringir o crescimento da mesma. Shila e Luque são sistemas de crescimento guiado. Os sistemas de compressão corrigem a deformidade aplicando força de compressão na convexidade da curva. Essa força leva a inibição do crescimento na convexidade sem interferir no crescimento no lado côncavo da curva 3. Para compressão são utilizados grampos ou cordas.

O que é a Escoliose Idiopática do Adolescente?

A escoliose é uma patologia da coluna vertebral comum entre crianças, adolescentes e adultos jovens. A maioria dos pacientes com escoliose tem uma curvatura anormal da coluna de forma leve e essa curvatura não progride na idade adulta. No entanto, uma curvatura mais acentuada e um diagnóstico tardio podem levar a complicações cardiopulmonares e redução da qualidade de vida dos pacientes. O diagnóstico precoce da escoliose permite o tratamento oportuno da condição em seus estágios iniciais, evitando ainda o tratamento cirúrgico e a progressão da deformidade. A prevalência da Escoliose diverge de acordo com a literatura variando entre 1% e 7% das crianças e adolescentes em todo o mundo. A EIA é responsável por 85% das escolioses, e 0,3 a 0,5% da população apresenta curvaturas acima de 20º e 0,1 a 0,3% curvaturas superiores a 30º. A escoliose idiopática do adolescente apresenta uma alta taxa de morbidade quando não tratada. As sequelas de longo prazo mais frequentemente observadas da EIA não tratada são progressão da curva, dor nas costas, problemas cardiopulmonares e preocupações psicossociais. Embora presentes na maioria dos pacientes não tratados, a gravidade dessas sequelas e seu efeito sobre a saúde e a função geral são muito variáveis.

Como tratar a EIA?

Embora a EIA seja diagnosticada e tratada em todo o mundo, as abordagens de tratamento variam internacionalmente. Em pacientes que ainda têm crescimento remanescente, espera vigilante (observação), seguida de órtese se a curva progredir para mais de 25°, é o curso geral de tratamento conservador. O tratamento cirúrgico é indicado quando a escoliose progressiva excede 45 graus em pacientes com esqueleto imaturo ou quando a progressão ou dor associada ocorre após a maturidade esquelética.

As complicações do tratamento cirúrgico de escoliose

A cirurgia de escoliose, tanto para EOS quanto para EIA, é caracterizada por trauma grave, sangramento maciço, longa duração da cirurgia e alto risco de complicações neurológicas. No período pós-operatório, dor, náuseas, vômitos, fadiga, sangramento e problemas de reabilitação são frequentes. Tudo isso dificulta a recuperação pós-operatória e leva a um maior período de internação. Além disso, a cirurgia para EOS e EIA pode causar estresse físico e psicológico severo em pacientes e suas famílias. Portanto, um protocolo de recuperação otimizado é necessário para melhorar a recuperação de pacientes com escoliose que foram submetidos à cirurgia corretiva.

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